Carretera Austral


Lembro até hoje do alívio que me deu ao ver as fotos de um fotógrafo brasileiro fazendo a Carretera Austral a bordo de um Peugeot. Pode parecer bobo, mas se você for pesquisar sobre esse caminho encontrará diversos relatos falando da má condição da estrada ou de quanto é necessário um carro 4x4 para fazer o percurso. Ainda na fase de pesquisa, encontrei um site que listava quais as piores partes da estrada e estavam todas fora da nossa rota. Por fim, encontramos relatos de outros viajantes (kombi t3) que nem citavam as estradas, apenas ressaltavam a beleza do lugar e assim que tem que ser.


Saímos cedo da Argentina e enfrentamos uma das fronteiras mais demoradas até agora, fila e mais fila. Cruzamos para o Chile com 4 israelenses de carona e nossa primeira parada foi no centro de informações turísticas em Chile Chico. Nos informamos sobre campings na cidade, passamos no banco e fizemos uma compra para repor a despensa da Matilda. Essa foi mais um cidade que optamos por ficar em camping e a escolha foi tão boa que permanecemos lá por dois dias.


Como já sabíamos os valores do camping no centro da cidade, seguimos até um outro um pouco mais afastado, o valor era o mesmo e as instalações muito melhores. Logo na chegada já ganhamos chá direto da horta e pãozinho que tinha acabado de sair do forno, não pensamos muito e acabamos ficando por lá. Aproveitamos para atualizar o site e andar de bicicleta, logo Germano já fez algumas amizades e passou a tarde andando de bmx com alguns garotos de lá. No outro dia acordamos tarde e resolvemos nos informar sobre o caminho que teríamos que seguir, eram 170km e o cálculo era que no mínimo levaríamos 6h. Fomos aconselhados a sair no outro dia (domingo), onde não haveria transito de caminhões e as estradas estariam mais vazias. Sendo assim, ficamos mais um dia aproveitando a cidade e no domingo levantamos cedo da cama.

Chile Chico é uma cidade pequena conhecida como Cidade do Sol, já que por lá é bem raro chover. No final da  rua principal acaba o asfalto e começa o rípio, ainda não é a Carretera Austral, mas a paisagem já impressiona. 




O nosso objetivo era chegar até Puerto Rio Tranquilo e fomos alertados para tomar cuidado por esse percurso, aqui a condição da estrada é muito boa e até encontramos algumas máquinas trabalhando pelo caminho. Porém, diversos trechos eram entre a montanha e o precipicio para o lago. Quando chegamos em um dos trechos mais críticos, conhecido como "Las Llaves", logo avistamos a placa de "Precaución - Curvas Peligrosas Proximos 18km". Seguimos com calma e depois de seis horas de estradas (e muitas paradas para fotos) chegamos ao nosso destino.

Las Llaves





Antes de chegar no centro da cidade, seguimos as indicações que vimos na internet e visitamos um camping que fica as margens do lago General Carrera e das Capillas de Marmol. Na verdade é quase um wild camping, ou seja, não tem banheiros, nem duchas, nem nada. A vantagem é que no mesmo terreno funciona uma empresa que faz os passeios para as Capillas, eles tem o melhor preço e se você compra com eles, pode acampar por lá sem nenhum problema (nem custo adicional).

Além de separar duas cidades, os 170km que nós percorremos neste dia nos levaram para uma paisagem totalmente diferente. Depois de vários dias pela Patagônia com sua vegetação rasteira, nos surpreendemos com tantas árvores e quase nenhum vento. Um alívio, para  nós e para a Matilda.
Ao chegar no endereço em que faríamos o passeio, fomos abordados por algumas argentinas que estavam aguardando para fazer o passeio de barco e precisavam de mais pessoas para baixar o valor. Seguimos até a pessoa responsável pelo local e nos informamos dos valores, levamos um susto após ver que estava bem fora do que imaginávamos. Fazer o passeio de kaiak (2 pessoas por 2 horas) saia 25000 pesos chilenos e o passeio de bote saia por 8000 cada, se tivessem mais de 5 pessoas. Desde que ouvimos da possibilidade de fazer esse tour de kaiak ficamos matutando a ideia e com muito pesar pensamos em desistir para ir com o barquinho, afinal o preço falava mais alto. Conversamos, então, com as argentinas e resolvemos ir todos juntos. A confusão estava formada, das quatro mulheres apenas duas iam fazer o passeio, ou seja, nós teríamos que desembolsar 10000 pesos chilenos cada para 1h. Sem pensar duas vezes, voltamos atrás e fizemos o passeio de kaiak.







O lago General Carrera era de um azul que não tem como descrever muito bem e a sua encosta era cheia de árvores e pinheiros, sem clichê, parecia cena de filme. O dia estava bem quente e o vento não incomodava, resolvemos que seria uma boa ideia fazer o passeio de bermuda e camiseta. No caminho até a praia para pegar nosso equipamento cruzamos com diversas pessoas de casaco corta vento, mas pensamos que "aaah, o barco é a motor tem muito mais vento que um velho kaiak". Nos aprontamos, pegamos o impulso e começamos a remar em busca do sol. A água era geladíssima, mas o sol era quente. Na ida pegamos algumas horas de vento contra, o que dificultava o desempenho do kaiak e nos deixou encharcados.


Depois de 10 ou 15 minutos remando, não sabemos ao certo, chegamos na primeira capilla e ficamos observando por um tempo. Seguimos para a próxima capilla, quando vimos o casal belga que tinha saído com a gente indo em direção a uma pequena praia, resolvemos adotar a ideia e seguimos para a ilha também. De lá tivemos uma outra visão das capillas e aproveitamos para sentar um pouco no sol e tirar a água do kaiak. Para conhecimento, Germano possui alergia a água fria e essa pequena volta fez toda a sua perna inchar muito, além de ficar super vermelha. Resolvemos ficar lá até a situação amenizar. Depois de alguns minutos voltamos ao remo e fomos conhecer as outras partes da região, aproveitamos para registrar o momento com a câmera (que estava bem envolta em uma capa plástica) e disputamos o local com outros 3 barcos cheios de turistas que estavam visitando o local.
Antes de retornar fizemos mais uma parada na pequena praia e seguimos, na volta a lagoa estava super calma, sem ondas e sem nenhum vento. Chegamos na Matilda e aproveitamos a paisagem para relaxar até o outro dia. 



Mais uma manhã de muita estrada e pouco vento (ufa!), seguimos rumo a Coyhaique e depois de enfrentar um pouco de rípio, chegamos ao asfalto. Foram bons quilometros de belas paisagens e algumas paradas por conta das obras nas estradas até que chegamos na cidade grande. Coyhaique é a capital do distrito e é uma graça, depois de muito rodar (culpa de uma estrada interditada) chegamos nas coordenadas de um camping. Não foi preciso muito tempo lá para decidir prolongar nossa estadia por mais um dia. Aproveitamos nossa passagem pela cidade para fazer os serviços de banco e mercado, andar de bicicleta e descansar.




Depois de dois dias de muito sol e descanso, seguimos nossa viagem rumo ao norte e sem nenhum destino certo. Uma verdade é que só de passar pelas estradas já fazem todo o caminho valer a pena, chega momento que não sabemos para onde olhar e não deixamos de nos surpreender. Resolvemos visitar um parque nacional e levamos na carona um casal suíço, mas resolvemos que não ficaríamos por ali por conta do valor da entrada + camping do local. Voltamos ao iOverlander, o app que facilita a vida na viagem, e encontramos um wild camping a 20km dali. O dia já estava no final e andar mais 20km parece uma eternidade, chegamos a uma cidade que estava no roteiro inicial: Puyuhuapi. Seguimos as coordenadas até o local e só encontramos depois de ver alguns motorhomes estacionados por lá. Conversamos com os casais, estacionamos a Matilda e nos preparamos para o jantar. Nesse meio tempo mais dois motorhomes chegaram, mas só um resolveu ficar. Acabamos lotando uma pequena praia que ficava nas margens do povoado.


Quintal



No outro dia pela manhã conversamos um pouco mais com os casais, um alemão e o outro suíço, ambos estavam seguindo a direção contrária da nossa. Partimos e depois de alguns minutos nos despedimos da carretera austral e avançamos rumo a Futaleufu. Neste dia seguimos para mais um wild camping, onde poderíamos aproveitar melhor o dia. Chegamos nas margens do rio Futaleufu no horário do almoço e prontamente seguimos para buscar lenha. O local - lindo, diga-se de passagem - era cheio de pequenas fogueiras e resolvemos escolher uma para chamar de nossa. Durante nossa siesta o local foi tomado por uma empresa que faz passeios de kaiak e rafting no rio, logo uma equipe chegou pelo rio e passaram um tempo ali fazendo piquenique e organizando os equipamentos. Mas tarde mais uma visita, um boi e uma vaca não muito amigáveis vieram pastar no nosso quintal.

Obras pelo caminho


Pelo caminho






Esse foi eleito por nós o mais belo wild camping até agora e foi difícil deixar ele para trás, mas a viagem tem que continuar e a fronteira com a Argentina estava perto mais uma vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário